Faixa 17: Giorgio Morandi

22 Sep 2021
Vista das obras de Giorgio Morandi na 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan /Fundação Bienal de São Paulo

Olá! Agora sou eu: André Trigueiro. Vou te acompanhar até o final deste seu percurso pela Bienal!

Você já ouviu falar no Giorgio Morandi? Ele nasceu em 1890 na cidade italiana de Bolonha, onde morou a vida inteira com suas três irmãs no mesmo apartamento em que nasceu, até sua morte em 1964. 

Morandi é considerado por muitos o maior pintor italiano do século XX e um dos mais influentes artistas do século passado. Mas, para alguém que não conhece muito bem seu trabalho, isso pode parecer surpreendente. Isso porque sua obra se limita a pouquíssimos temas, como as vistas do povoado de Grizzana, quase todos os verões da sua vida, ou as célebres naturezas-mortas de garrafas e potes, pintadas com mínimas variações ao longo de décadas. 

É, Morandi era um homem de hábitos. Sua biografia previsível e metódica faz muito sentido quando vemos suas pinturas, em que os objetos e os motivos se repetem indefinidamente. Seus detratores diriam que seus temas se repetem até o tédio, mas outros veem nessa repetição uma forma de tornar tangíveis tanto os objetos em si, quanto tudo que se pode perceber por meio deles: as sutis mudanças na luz da tarde, a poeira que neles se deposita, a passagem do tempo que se faz visível na própria matéria das garrafas que reaparecem uma e outra vez, quadro após quadro, ano após ano.

Morandi tem seis obras expostas na Bienal, e eu destaco aqui uma natureza-morta. É uma pintura em óleo sobre tela realizada em 1946. Tem 28 centímetros de altura por 38 centímetros de largura e faz parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, o MAC USP, que fica aqui perto da Bienal, do outro lado da avenida. A pintura é predominantemente em tons bege-amarronzados, esmaecidos, e mostra o tampo de uma mesa bege que quase se confunde com o fundo do quadro, que é de um bege um pouco mais amarelado. Sobre a mesa há quatro objetos: uma xícara, que é única coisa branca no quadro; uma garrafa com o bojo bem largo que se afunila terminando em um gargalo comprido e fino; um pão arredondado e alto com uma parte cortada, por onde se vê a massa mais clara do que a casca; e, ao fundo, uma jarra de que só é possível identificar o gargalo com listras claras e escuras. A luz incide sobre os objetos da esquerda, onde eles são mais claros, para direita, onde sua sombra é projetada.

Assim como Morandi, diversos  artistas visuais, escritores, músicos e diretores de cinema do século 20 desenvolveram obras que se impunham por uma espécie de repetição silenciosa e pela simplicidade em um mundo cada vez mais ruidoso.

A pintura de Alfredo Volpi, o cinema de Yasujirō Ozu ou a poesia de João Cabral de Melo Neto são exemplos de produções semelhantes à de Morandi, em que as coisas se apresentam pelo que elas são, como se isso fosse simples. Afinal, como o artista disse uma vez ao seu amigo, o escritor italiano Giuseppe Raimondi, seus quadros são feitos das “mesmas coisas de sempre. Você as conhece. São sempre as mesmas. Por que deveria mudá-las? Funcionam bastante bem, você não acha?”.



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